Aeroporto fechado é um convite para passear pelos corredores da La Selva para fazer um panorama dos assuntos da semana apenas observando as capas das revistas. Ontem, minha conclusão foi de que na semana passada (e essa também) o assunto da vez é o tal do I-pad. Confesso que me dá uma enooorme preguiça em sair correndo para descobrir qual foi o último lançamento da Apple e por isso só fico vendo os burburinhos, esperando os amigos mais antenados trazerem a notícia para a mesa de bar (rsss). Mas, a conclusão mais óbvia que se tira disso é que os nossos queridos livros vão ter que se reinventar, né? Com o Kindle e o super-mega-ultra-poderoso I-pad, a cultura da leitura em folhas impressas de celulose virará um ato excêntrico, ou de pessoas tradicionalistas. Para continuarem vivos, os livros terão que proporcionar uma experiência fora do comum, incapaz de ser substituída por bits e pixels (ainda). Mas, rapidinho, rapidinho, não resisti de pensar nas "outras" novas funções dos livros. Uma delas é virar instalação e matéria prima para obras de arte, como mostram as ótimas esculturas de Robert The, em sua série "Book Works". Fiquei sabendo desse artista, através do ótimo blog Bem Legaus .
A Flávia deu início à discussão e eu vou continuar com a bola no ar. Sobre o ALEATÓRIO que, também concordo, é um tema atual, acabei lembrando que o Baudrillard coloca o conceito como uma das senhas para se acessar a contemporaneidade. Aliás, o livro Senhas é super interessante, e ele descreve rapidamente quinze senhas ou palavras-chave que nos permitem compreender um pouco mais o mundo em que vivemos. Para Baudrillard, o aleatório está associado ao fractal e ao catastrófico, onde os referenciais desaparecem. Na verdade, ele descreve o nosso tempo como um tempo aleatório, onde o sujeito e o objeto não se encontram mais definidos, isso porque nosso pensamento tornou-se também aleatório, emitindo apenas hipóteses e nenhuma verdade. A pergunta que ele coloca é: o que nós podemos chamar de “acontecimento” no meio de um desenvolvimento caótico “com causas e condições iniciais mínimas, infinitesimais e efeitos prodigiosos de nível mundial”? Sobre o fractal, Baudrillard se prende apenas à idéia de “reprodução indefinida de uma mesma microforma” ou fórmula, linkando-a ao fenômeno de massa, através de dimensões fractais, virtuais e viróticas. Ele ainda chama atenção para o indivíduo que, neste momento, também teria uma integridade problematicamente fractal, ou seja, repetida indefinidamente pela clonagem, talvez ainda não geneticamente, mas já do ponto de vista mental e cultural. Para Baudrillard, a razão cedeu diante de um processo incontrolável e aleatório, e o real, o sentido e a verdade viraram exceção ou, como ele diz, um mistério. Para terminar e continuar com o jogo, deixo a pergunta feita por ele: como esse efeito de verdade e de real pode surgir e durar, por menos tempo que seja, “se eles próprios estão em vias de desaparecer?”
Ah! Para quem ficou curioso, as outras "senhas" são: o objeto, o valor, a troca simbólica, a sedução, o obsceno, a transparência do mal, o virtual, o caos, o fim, o crime perfeito, o destino, a troca impossível, a dualidade e o pensamento.
Diante de tantos sinais sobre o mesmo assunto em menos de uma mês, decidi colocar uma palavrinha chave no meu moodboard para o ano de 2010: ALEATÓRIO.
Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa essa palavra quer dizer:
aleatório
adj.
adj.
1. Que depende de acontecimento incerto.
2. Sujeito às incertezas do acaso.
3. Diz-se duma grandeza que pode tomar um certo número de valores, a cada um dos quais se liga uma probabilidade.
Seguindo a linha de video-chats aletórios que mencionei no último post, venho mostrar mais dois exemplos desse interesse em supreender-se com o inesperado. O primeiro é o Mystery Google, que entrou e acho que ja saiu do ar por razões legais. Nesse site o internauta digitava uma palavra para pesquisa e o resultado que recebia era, na verdade, a busca feita pela pessoa antes dele. Não consegui entrar e testar, mas creio que deve ser no mínimo, divertido.
Agora, acabo de ver no PFSK, uma nota falando da "camêra cega"- uma máquina digital sem lente que capta o sinal da última foto baixada na web no mesmo segundo em que fotógrafo tirou a foto. Segundo seu criador, o artista alemão, Sascha Pohflepp, esse projeto é focado na importância da noção de momento e no montante de informações que são divididas quando uma foto é tirada. "É possível encontrar uma foto na internet que foi tirada exatamente em quase todos segundos desde 2004. Para cada foto que eu crio uma memória e uma conexão emocional, eu também posso ver o momento de outras pessoas. Posso ver o que aconteceu em outra parte do mundo enquanto eu estava fazendo o que eu me lembro quando eu via a imagem.
Nesse sentido, as camêras se transformaram em botões de networks que criam um link entre duas pessoas através do simples fato de que elas estavam fazendo a mesma coisa simultâneamente: pressionando um botão. As camêras criam um traço visual disso, com o tempo como referência", explica Pohflepp.
Note que a questão do aleatório está diretamente ligado a enorme curiosidade que sentimos de saber o que outras pessoas estão fazendo, a mesma curiosidade que sentimos ao dar uma "espiadinha" nos realities shows que pipocam pela TV e web.
Juntando o quebra-cabeça e colocando no forno pra refletir. Alguem se atreve a comentar? Vamos inaugurar os comments!!
Algum de vocês ja teve contato com o Chat Roulette? Como tudo nesse mundo virtual, esse site se propagou de maneira viral e se transformou no último assunto do Facebook, Twitter, etc. Mas o que é? Como o próprio nome ja diz, o Chat Roulette é um programa que permite com que várias pessoas conversem através de video-chats, no entanto, a grande sacada é que você não consegue escolher o tipo de pessoa com quem você quer trocar idéias, como numa roleta russa, você clica em PLAY e vários tipos (dos mais estranhos, diga-se de passagem) vão surgindo na sua tela e você pode dar início a conversa (caso te interesse) ou pode partir para próxima pessoa e clicar em NEXT, para que o programa aleatoriamente o coloque frente a frente virtualmente com outra pessoa. Aliás, o ato de passar para outra pessoa ja ganhou até verbo em inglês: to next someone, conjugando: I nexted him, You nexted me, We nexted them, She nexted that other person, e por aí vai. Se esse site virar moda no Brasil, esse verbo será carinhosamente aportuguesado para "nextei",ou "nextear" ---> ei, Nextel, olha a oportunidade de marketing nessa similaridade de palavras! rsss Minha experiência no Chat Roulette tem sido ainda tímida, mas é fascinante passear pela rede vendo os rostos curiosos (sem contar os 15% de pervertidos que mostram muito mais que o rosto) atrás de outras pessoas e friamente "nextear" quem não seja de seu interesse visual primário. Segundo Casey Neistat, quem fez o super explicativo video acima, demora menos de 3 segundos para uma pessoa decidir se você é interessante ou não e te nextear (e vice-versa). O chat é uma coisa antiga, eu mesma, lembro que ficava hoooras no IRC chateando e paquerando sem nunca ter encontrado ninguem do virtual na vida real. Contudo, o Chat Roulette amplia essa experiência e é interessante perceber que a barreira do teclado, que também funcionava como uma muralha de segurança num primeiro momento, hoje foi transposta pelo vídeo e muitas pessoas não tem o menor pudor de colocar seu rostinho no vídeo para chatear, nextear e ser nexteado. A era dos realities-tudo diluiu essas fronteiras e hoje, apesar das carapuças existirem (e sempre existirão pois no Chat Roulette posso mentir dizendo que sou qualquer outra pessoa) elas estão mais reais. Não são avatares, mas gente de carne e osso mesmo que estão ali, avaliando e sendo avaliado. Algo para se refletir. Coincidentemente, eu acabo de saber que o celular com plataforma Androide (eu tenho! rss) ja possui um aplicativo para reconhecimento de rostos em imagens de video. Batizado de Recognizr, esse aplicativo será útil por um lado e extremamente perigoso por outro. Por exemplo, vai que eu estou no Chat Roulette e do outro lado da linha está uma pessoa com péssimas intenções. Ele usa esse aplicativo ao ver a minha face no video e TCHUM, aos poucos vão surgindo informações sobre quem eu sou, outros videos que contenham a minha face no You Tube, imagens de Facebook, etc. Pronto, tenho um perseguidor em potencial na minha vida, não? Agora tudo ainda é farra, mas a questão da segurança está cada vez mais em voga no mundo virtual e creio que isso tenderá a aumentar exponencialmente. Prospectando o futuro (ei Cidda me ajuda aqui!) penso que teremos grupos loucos por uma abertura total da web, tudo open source e outro grupo de pessoas loucas para se suicidarem virtualmente. Algo que, aliás, foi comprovado ser quase impossível. Não lembro o link, mas teve um cara que tentou sumir das redes sociais e apagar todos os seus dados e rastros na web. Ele não só não conseguiu. como ainda teve que enfrentar a fúrias de amigos que não aceitavam a sua "morte virtual".
Na Europa, Japão e EUA, ja existem vários sinais de que a jardinagem está voltando para dentro das casas, ou melhor, das janelas e varandinhas, playgrounds e tetos de prédios. As causas desse movimento são variadas, mas vale lembrar na árvore de valores da manutenção do bem-estar, está o consumo de alimentos sem agrotóxicos e produzidos de maneira orgânica. Junte isso ao valor elevado dos produtos orgânicos, a vontade de voltar a mexer com a terra (vontade de experimentar coisas muito reais em antagonia ao virtual), e todo blá, blá, blá eco-living que vivemos hoje. A conjunção desses fatos resulta no aumento constante da atuação/formação dos fazendeiros urbanos. Enquanto nos EUA essa tendência ja é abraçada pela indústria de alimentos como a Triscuit, que acaba de lançar uma enorme campanha de incentivando o plantio domésticoem suas embalagens, aqui no Brasil, essa tendência ja pode ser vista em anúncios imobiliários como o Mais São Cristovão, um conjunto residencial que será construído na zona norte do Rio de Janeiro, e que tem um "pomar e horta" como um dos chamarizes dentre os muitos serviços prometidos no imóvel. Essa semana mesmo, vi um post no blog Ville Chamonix, sobre a compostagem caseira para gerar adubo para os nossos jardins. Esse blog, focado na rotina e nas idéias de Camille Chamone sobre seu canil, sustenta valores típicos ao da vida-verde e ao retorno aos alimentos naturais, como a dieta BARF (bone and raw food) a qual os cães são alimentados com ossos e alimentos, em sua maioria, crús. Até mesmo o queridinho, bonitinho e charmossísimo Jamie Oliver, o pop chef exibido no canal GNT que vende milhares de livros pelo mundo, criou um program especial destacando suas hortinhas. Infelizmente, Jamie gerou o desejo por alimentos naturais vindo dessas fofa hortinhas, mas, o pulo do gato (na minha opinião) seria se essas hortinhas fossem cultivadas dentro de casa, de preferência um apê bem pequeno no centro de Londres. As do Jamie eram plantadas numa linda horta ao ar livre, com um fogão ao ar livre num casa de campo. Aliás, não me impressionarei se o próximo must da Ana Maria Braga for um quadro sobre plantio doméstico. Aguardo feliz, enquanto luto com o pézinho de tomilho que teima em morrer no meu canteiro. :( ps. a imagem acima é do folder virtual do Mais São Cristovão
Fiquei perplexa com esse produto conceito! É uma impressora com um design super bonitinho que trabalha com tocos de lápis usados como tinta para imprimir seus documentos. Vamos combinar que quando o seu criador, Hoyoung Lee, conseguir tirar isso do papel e fazer funcionar de verdade, vai virar uma febre! E tem mais, sendo a tinta de grafite, basta apagar para reutilizar o mesmo papel....bonitinha, ecológica e inteligente. Adorei! Para quem segue as tendências do trendwatching, essa vai direto para lista de objetos ECO-ICONICS deles, ou seja, objetos que além de ecológicos, são chamarizes e ícones do design, como o i-phone, i-pod, etc.. Assista ao video aqui.
Na leitura diária de newsletters me surpreendi com a proposta do blog The Great American Apparel Diet que funciona como um diário sobre a dieta de um grupo de mulheres e dois homens de diversas partes dos EUA e, do mundo. Entretanto, o" jejum", como eles mesmo dizem, não tem nada a ver com perda de peso ou, alguma seita religiosa, na verdade, esse grupo resolveu fazer uma dieta no consumo de roupas. Todos se comprometeram a parar de comprar roupas durante um ano. Não consegui entender bem quem é a fundadora do site, me parece que é a Sally Bjornsen, uma americana, baseada em Seatle que sempre curtiu comprar roupas para si e para sua família. O objetivo do jejum para esse grupo é tentar entender, refletir, perceber como eles se sentem ao ficar um ano sem nada novo em seu guarda-roupa. Algumas seguidoras até ja arriscam conclusões sobre o assunto. Nos posts de "Ageless Godess" (Brenda) a dieta está fazendo com que ela perceba que "muitas roupas causam stress", além disso, ela percebeu que "novos itens rapidamente se transformam em velhos itens" pois as roupas novas pareciam ser antigas em seu guarda-roupa. É engraçado ver o relato das pessoas com saudades de passear pelo shopping, de olhar as cores, o cheiro de novo, o sentimento de felicidade instantânea ao comprar algo. Agora, época de liquidações de inverno nos EUA e entrada de novas coleções de verão, várias mulheres relatam uma grande preocupação, um medo de estarem perdendo algo imperdível e se sentem culpadas ao dar uma "olhadinha" nos catálogos novinhos em folha que chegam às suas casas. Pensando num primeiro instante pode até parecer que elas estão exagerando, que o jejum é super fácil (mais fácil que tentar perder aqueles quilinhos extras, rsss), mas vamos lá: quem fica mais de um ano sem comprar nadinha de novo para vestir? Oito meses? Seis meses? Dois meses? Alguem? Achei a idéia muito relevante e um sinal claro de que depois desse momento pós-crise, as pessoas estão realmente reavaliando seus hábitos de consumo, procurando um sentido e valores que ultrapassam a questão do novo, do último laçamento, da última versão. Parece que esse discurso vai cair por terra e a minha maior curiosidade é pensar como esses valores serão absorvidos aqui no Brasil, onde a crise passou raspando e jejum consumista é um conceito que passa longe da massa de consumidores, especialmente da classe C, morrendo de vontade de consumir, experimentar o novo. Para muitas pessas pessoas o novo é realmente novo e não apenas um discurso de vendas. Let's see. Não sei se consigo (ou se quero) entrar nessa dieta. Alguem se habilita?
ps: Oi pessoal, descuuulpem por tanto tempo sem postar. Depois das semanas de moda vieram os deadlines insanos e, em seguida, o carnaval que deliciosamente se transformou em uma semana de férias em MG...depois teremos posts do coolhunting que fiz em Tiradentes. Aguardem.