quarta-feira, 13 de julho de 2011

trickle up é o novo efeito dominador

Acabo de ler o texto "Inovação do consumo na base da pirâmide", publicado pela Neuza Sousa, professora do curso "A Inovação do Consumo na Base da Pirâmide Brasileira" no Centro de Inovação e Criatividade da ESPM.
Neusa fala da potêncialidade das classes mais baixas na pirâmide econômica e mostra através de fatos que é preciso repensar a maneira de ver o mercado e de trazer a inovação. No Brasil, esse conceito deve deixar de vir de cima para baixo (famoso effeito "trickle up") e passar a vir de baixo para cima. Pensando assim, ela chega a conclussão que para inovar é preciso saber segurar o custos, realmente preencher as necesidades dessas pessoas e trazer tecnologia de ponta.
Acho que vale a leitura e aí está:

"As classes C, D e E estão ditando as regras de consumo. Fique atento quando pensar em novos produtos e serviços.

Parece haver algo de novo na estrutura brasileira de consumo em função de uma das maiores mobilizações sociais ocorridas na sua história econômica. Mas esse fenômeno não surgiu “ontem”. Vem sendo construído ao longo das últimas duas décadas.

A estabilidade econômica observada no Brasil desde 1990 com a queda da inflação, o surgimento do salário mínimo acima do crescimento do PIB, o aprimoramento dos programas sociais e a elevação dos índices de escolaridade, como se vê na figura 1, abaixo, são indicadores que representam a ocorrência de uma ampla reformatação socioeconômica no cenário brasileiro que resulta na ascensão das classes C, D e E.

De acordo com a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a classe média vem crescendo rapidamente e pode dobrar nos próximos 20 anos. Atualmente 1,8 bilhão de pessoas compõem a classe C no mundo, a estimativa para 2020 é de 3,2 bilhões e, em 2030, de 4,3 bilhões.

Uma característica marcante dessa classe C é o consumo de praticamente um terço de sua renda em bens que não são nem comida e nem moradia. Entre os produtos desejados por esses novos consumidores no Brasil estão: celular, internet, previdência privada, educação, lazer, entre outros.

O celular que, segundo a Anatel, ultrapassou o índice de um aparelho por habitante em outubro de 2010, em Estados como São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Santa Catarina, Rondônia, Espírito Santo, Pernambuco e Paraná, tem a marca de mais que um telefone por habitante. Do total de habilitações de 2000 a 2010, aproximadamente 82% são pré-pagos e 17% pós-pagos.

A quantidade de domicílios com internet, conforme PNAD (Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílios)/IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), aumentou 71% entre 2005 e 2009; em algumas regiões, como Centro-Oeste, o crescimento chegou a 20%; no Norte e Nordeste, ele foi ainda maior, beirando a 25%, pelos dados divulgados em setembro de 2010.

No setor de previdência privada aberta, as empresas inovam e oferecem produtos flexíveis para atender à nova demanda, assim a previdência privada passa a compor a cesta de produtos da classe C. Esse mercado registrou, no primeiro trimestre deste ano, um crescimento  de 16,6% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com indicadores fornecidos pela Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida). Entre os fatores que explicam o crescimento estão o aumento da renda do brasileiro e chegada dos consumidores da classe C.

Segundo informações da PNAD 2007 anunciada pelo IBGE, na educação particular, temos perto de 3,7 milhões de crianças e jovens das classes C, D e E, matriculados. As mensalidades variam de R$ 190,00 a 240,00 mensais que estão localizadas nas grandes periferias de São Paulo, onde há escolas públicas disponíveis.

Porém, os pais preferem as particulares por fatores como: certeza da presença de professores; vigilância de câmeras; possibilidade de acompanhá-los a distância via internet; ideia de estarem mais protegidos do bullying; e uma suposta qualidade de ensino; já que a maioria das instituições trabalha com materiais apostilados de escolas, considerados de “grife”.

Fernando Lobo, gestor pedagógico da rede Welf, que dispõe de cursos de pós-graduação à distância, voltados para gestão em esporte, a rede vem notando aumento significativo na quantidade de alunos desde a abertura em 2009, sendo que do primeiro semestre de 2010 para o segundo semestre mais que dobrou o número de alunos.

Fernando Lobo credita a elevação da procura à melhora das condições socioeconômicas do País, ao aumento de formandos que - segundo ele  - é impulsionado pelos programas de bolsas de estudo do governo para a graduação - e a crescente demanda por profissionais especializados no atendimento a grupos de terceira idade, obesos, diabéticos, entre outros. Os cursos possuem preços na faixa de R$ 99,00 mensais.
Conforme P. J. Williamson e M. Zeng, em artigo de março de 2009 publicado na Harvard Business Review, inovação é associada com o desenvolvimento de novos produtos e serviços com a adição de mais funcionalidades e recursos para os serviços existentes.
Em ambos os casos, as empresas esperam que os clientes paguem mais por essa mudança. Inovação com um produto novo com baixo custo não é convencional nem para o mercado nem para as companhias, mas é o que atende a esses novos consumidores.

Dessa forma, têm tido bons resultados quando inovam oferecendo tecnologia de ponta a preços baixos; apresentam uma grande variedade de produtos; quando personalizam seus produtos; e, ou promovem a explosão de nichos de mercados.
Assim, a atual conjuntura econômico-social brasileira deve ser, portanto, um dos principais fatores de estímulo ao processo de inovação das companhias que tenham por objetivo liderar as abordagens comerciais de prospecção e fidelização desses novos consumidores – classes C, D e E, um público que não compra qualquer coisa, e sim aquele bem que atende à sua necessidade e com o qual se identifica."
Texto publicado no Portal HSM em 12/07/2011.

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