sábado, 22 de agosto de 2009

NOSSO PRESENTE NO FUTURO

Em nossas pesquisas e por conta de nossos objetivos, estamos constantemente levantando indagações e fazendo prospecções sobre o futuro. Porém, para isso, temos a aparentemente fácil tarefa de esmiuçar o nosso presente! Mas analisar o presente sem distanciamento é tarefa complicada, que limita, distorce e nos faz perder a noção do todo.
Por isso, achei super interessante a matéria que saiu hoje no caderno Prosa & Verso do jornal O Globo. Foi solicitado a seis pensadores brasileiros que tentassem olhar o nosso tempo através da visão de obsevadores num futuro hipotético. A pergunta é: como nosso tempo será visto no futuro? Resumo aqui suas respostas.
Para Adauto Novaes (jornalista e filósofo), nosso tempo será visto no futuro como um momento de grandes mutações, sejam elas na política, na arte, no corpo, nas ciências, nos costumes, mentalidades e valores. Um tempo de passagem, entre a confluência de dois mundos: um que ainda não se foi totalmente e outro que ainda não se implantou de fato. Será, ainda, lembrado “pelo vazio do pensamento”, pela “desqualificação do homem”, pelo legado das invenções técnicas e pela morte de 191 milhões de pessoas, vítimas diretas e indiretas da violência política do século XX.
Para Ronaldo Vainfas (professor titular de História da UFF), nosso tempo será chamado no futuro de a “era do neocapitalismo”, menos pelos aspectos econômicos e tecnológicos, mas, sobretudo, pela ênfase numa cultura planetária. Os futuros estudiosos do nosso tempo verão a internet como símbolo da globalização e uma vulgarização dos sistemas de comunicação, antes de uso exclusivo militar. A preocupação com o meio-ambiente e os projetos de desenvolvimento sustentável serão considerados uma “combinação do capital com a preservação do planeta”. Mas Ronaldo Vainfas diz que o que mais vai impressionar os nossos observadores será a conversão dos regimes comunistas em capitalistas, sobretudo a China!
Francisco Carlos Teixeira da Silva (professor titular de História Contemporânea da UFRJ) tem uma visão apocalíptica para o mundo, denominando o início do século XXI de “tempo perdido”. Para ele, nossos descendentes, localizados no ano de 2035, terão uma visão nada simpática a nosso respeito: o tempo em que tivemos a oportunidade de mudar as coisas, mas não levamos a sério as advertências. Por isso, eles estarão sofrendo todas as conseqüências das nossas irresponsabilidades.
Para Nuno Ramos (artista plástico e escritor), nossa época bem poderia ser chamada de a “época da cacofonia”, dos discursos infindáveis, onde tudo se diz e tudo se vende, onde o verbo recobriu as coisas ou mesmo tomou o lugar delas.
Isabel Lustosa (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) diz que por vivermos a crise de um modelo econômico e filosófico, observa indícios do surgimento de um novo Renascimento, onde a humanidade está toda num mesmo barco, iniciando um processo de preocupação uns com os outros. Por isso, para ela no futuro seremos vistos como o tempo em que teve lugar a recuperação dos valores de uma humanidade esquecida.
Mary Del Priore (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) focou seu olhar sobre a aceleração das mudanças e seus conflitos, considerando a nova equação familiar, o hedonismo, a depressão, o indivíduo multifacetado, o culto à felicidade, a busca de uma nova ética, entre outros, como aspectos que marcarão nossa época.
Finalizando, Mànya Millen fala sobre a visão otimista do jornalista Juan Arias, que escreveu o livro “50 motivos para amar o nosso tempo”. Segundo ele, estamos hoje melhor do que estávamos há poucas décadas. E como não há campo algum onde tenha havido retrocesso até o momento, a tendência é que continuaremos avançando, seja na saúde, na tecnologia, na política etc. Para ele, temos muitos motivos para valorizarmos o presente e, no futuro, sermos valorizados por nossas conquistas.
Como eu gostei da brincadeira, resolvi dar também a minha opinião. Para mim, nosso tempo poderá ser visto como o tempo em que a inversão do público e do privado fez com que muita coisa viesse à tona. Seremos chamados de "a época da transparência". Uma “transparência” big brother que tomou conta do mundo, mas que não tem a conotação bacana de “sinceridade”. Para uns, uma transparência do que se quer revelar a qualquer custo, independentemente de se ter um público interessado nessa revelação. Para outros, uma transparência que não consegue ocultar o que se queria oculto. Enfim, uma transparência saia justa, que muitas vezes incomoda, constrange, denuncia, mas que também rende pontos na mídia!

E você? Como acha que seremos vistos no futuro?

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